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sábado, 7 de janeiro de 2012

papá!




Recordo-me da primeira vez que o vi, como se fosse ontem. Aquele que eu hoje intitularia carinhosamente de pai, não passava de mais uma figura que a minha presença estranhou. Não posso especificar todo o seu vestuário, mas o casaco verde que envergava nunca irá sair da minha memória. Assentava-lhe na perfeição. Dava-lhe aquele ar. No entanto, nada disso adiantou para mudar a opinião que se havia formado na minha cabeça, nos primeiros segundos em que fui capaz de o avaliar. Opinião essa, que se mostrou redondamente errada à medida que o fui conhecendo. O rapaz que eu entendia como rude, antipático, problemático e “cheio de mania”, rapidamente se transformou em alguém com um interior de ouro.
Mesmo assim, no fim daquela tarde, fui para casa convicta de que eu era dona da razão, nunca acreditando numa possível amizade entre nós, que julgava sermos pessoas completamente distintas. E foi nesse momento que aprendi uma lição. As aparências iludem.
Também não posso datar com precisão a primeira vez que falámos afincadamente, mas sou capaz de definir o assunto. As cores por quem ele chorava, o amor há camisola que havia aprendido a ter, eram as opostas às que eu idolatrava. “Que infeliz”, pensei. E como eu não sou alguém que fique calada perante comentários futebolísticos, falei. Ao inicio um pouco a medo, confesso, mas aquele sujeito transparecia uma calma incrível, algo que me fez ganhar confiança nele. Daí a termos ficado amigos, foi um pequeno passo. Eu era a sua anjinha e ele o meu ponto de abrigo. Os meus olhos passaram a vê-lo de outra forma. Tornou-se numa figura paternal para mim.
Alguém puro, sem preconceito, com um sorriso de sonho e um interior maravilhoso. Alguém capaz de me entender, fosse o que fosse, acima de tudo. Simpático, amigo, sempre presente. Alguém que eu não trocaria por nada. Alguém que já me ensinou muito, que tem um talento incrível para cantar. Alguém tão perfeito quanto o mundo o permite. O meu pai.

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